quinta-feira, 12 de abril de 2012

A infelicidade, a má educação, o mal estar social e as histórias reais de pessoas que realmente valem a pena.

António: 34 anos, abandonado pela mãe biológica num lar para adoção com 2 meses de vida; adotado por pessoas com mais idade ficou órfão aos 8 anos,quando então foi transferido para um colégio para crianças sem tutores e passou mais  uns quantos de sua vida acompanhado apenas da heroína_até então a sua única companheira de estrada, vazio de auto-estima e firmador de sua solidão; após 4 anos de reclusão, Antonio diz ter conhecido na prisão o seu divisor de águas: pessoas que lhe lembraram_naquele suposto lugar de perdidos sociais_ que como todos tinha uma vida independente do príncípio/passado e que o futuro a cada um de nós pertence. O futuro é agora. Ao sair da prisão, Antonio decidiu deixar de lado o rancor_ o único sentimento que conhecia até então!_ e saiu em busca da mãe biológica, em busca no fundo de conhecer, por fim, a si mesmo! E nesta viagem ao Porto( onde nasceu) encontrou a sua progenitora e encontrou também razões para amar e sentir-se amado.
Questionado de como largou a heroína, ele respondeu-me que não teve saída pois como não tinha visitas, não teve como adquirir dívidas e o vício teve que ser deixado. Afinal, foi até bom não ter família, pensei, apesar de estar sufocada de segurar o choro com a sua história; Antonio é um típico homem do Norte e diz-me isso com tanta franqueza que chego a ver as lágrimas em sua alma; Antonio é forte e é muito capaz! É forte e capaz! É forte porque procurou o seu passado sem ter medo do que ia encontrar; é forte, pois está encarando a nova fase com a cabeça erguida; está feliz com as pessoas que conhece agora e  com a profissão que aprendeu segundo ele ’a ver os outros a fazer’. Antonio é pedreiro/canalizador/faz-tudo! Antonio para mim,é gente que faz. É gente que faz pela sua própria vida; é gente que sorri sem ter os dentes da frente por causa dos anos de heroína; é gente que conta sua história a uma desconhecida como eu de cabeça erguida e como se dissesse:”_Vês? Não chores e nem reclames do que tens, há vida piores!” O Antonio é gente! Agora ele sabe disso! Ele aprendeu a sentir sensações superiores a da heroína! O amor venceu a heroína e o Antonio não gosta mais de heroína e também não odeia mais a sua mãe biológica! O Antonio aprendeu a rir-se dos seus próprios erros e aceitar críticas sem reagir com violência verbal/física.
Quando pergunto ao Antonio qual a melhor parte desta história toda e ele me responde com seu sorriso largo:
“__ Quando era pego pela bófia, batiam-me muito porque eu não tinha família e não tinha ninguém. Agora, tenho mãe, tio e primos, caso me peguem agora (não que eu queira fazer algo de errado!) mas agora posso dizer que tenho família e que tenho a quem ligar, já não me vão bater como se não houvesse amanhã.”

Grata, Antonio! Por dividir comigo a sua grande história! A vida vale a pena quando vemos pessoas que insistem em ser felizes apesar de  tudo querer te levar à infelicidade!
Grata, Antonio! Por mostrar que é possível mudar tudo! Querer é poder e a força não tem limites!

*Antonio é nome fictício para proteger o dono da história; Antonio vivia na rua, aprendeu a sua profissão com outro colega de rua que o convidou para ir morar com sua família; Antonio tem 34 anos cronológicos, aparenta 44 e deve ter muitos anos de alegria pela frente, apesar de todas as vicissitudes. Fui escolhida para ouvir sua história… Ele sentiu-se à vontade e eu adorei ouvir.


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